Guiné-Bissau atravessa período de instabilidade e por isso
pede que o país seja impedido de receber cimeira, mas a nova presidente da
Assembleia Parlamentar da CPLP diz que não será o orgão a decidir.
A nova presidente da Assembleia Parlamentar dos países
lusófonos, a moçambicana Margarita Talapa, rejeitou esta terça-feira qualquer
impedimento à realização da próxima cimeira de chefes de Estado e de Governo da
CPLP na Guiné-Bissau, como pedia o parlamento daquele país.
“Penso que temos de respeitar a separação de poderes.
Nós temos as nossas funções como parlamentos e os chefes do Estado também têm
suas responsabilidades. Não vai ser a Assembleia Parlamentar [da CPLP] que vai
decidir a não realização de uma cimeira”, declarou a nova presidente da
Assembleia Parlamentar da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (AP-CPLP),
Margarida Talapa, presidente do parlamento moçambicano, ao dirigir a
primeira sessão ordinária do órgão, em Maputo, após tomar posse.
A Guiné-Bissau enviou esta terça-feira uma carta à AP-CPLP
pedindo que se “recuse a dar cobertura institucional a eventos que
contradigam os princípios democráticos e os fundamentos legais da nossa
comunidade”, referindo-se à realização da cimeira da CPLP, a decorrer na
sexta-feira em Bissau.
Na carta, o parlamento guineense, que não teve representante
na 14.ª Assembleia Parlamentar da CPLP que termina esta terça-feira, indica que
“atravessa uma anomalia constitucional grave”.
“A aparência de estabilidade não pode ocultar a ausência de
legalidade democrática. A paz não se impõe com silêncios. A cidadania não
floresce onde o medo se sobrepõe à liberdade”, apontava, denunciando o
encerramento do parlamento, que permanece “militarizado”.
Por isso pede ao órgão que se reforcem os mecanismos de
acompanhamento da situação política e parlamentar nos Estados-membros e que “se
abstenha de legitimar processos de exclusão ou suspensão de parlamentos
democraticamente eleitos”.
O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, dissolveu o
parlamento do país em dezembro de 2023, antes de passados os 12 meses, fixados
pela Constituição, das eleições legislativas ganhas pela Plataforma Aliança
Inclusiva (PAI-Terra Ranka), liderada pelo Partido Africano para a
Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
Bissau acolhe na sexta-feira a XV Cimeira da CPLP, em que
irá assumir a presidência rotativa da CPLP por dois anos, sucedendo a São Tomé
e Príncipe, e deverá ser decidida a presidência seguinte.
Falando na sessão, a nova presidente da AP-CPLP
prometeu que o órgão vai fazer o devido acompanhamento da situação de
Guiné-Bissau, mas pediu atenção à observância das atribuições do órgão.
“Nós temos de respeitar os limites das nossas atribuições e
não irmos para além daquilo que são as nossas atribuições, dos parlamentos.
Nós, como presidente, tomamos [como] posição [que] neste momento
vamos continuar a fazer o acompanhamento da situação da Guiné”, acrescentou
Talapa, prometendo igualmente enviar uma equipa de observação ao escrutínio.
“Foram marcadas as eleições para este ano, vamos fazer o
devido acompanhamento, vamos criar condições para que possamos participar
efetivamente como observadores criando um grupo que irá para lá”, disse
Margarida Talapa.
Moçambique assumiu esta terça-feira a presidência rotativa
da AP-CPLP sucedendo à Guiné Equatorial, num mandato de dois anos que
assume ser focado na paz e inclusão.
“Esta é uma caminhada que deve ser coletiva, e que cada país
deve assumir o seu papel para o crescimento da organização para promover mais
união, coesão e trabalho conjunto”, disse Margarida Talapa, ao assumir o cargo.
Voltou a prometer apostar no fortalecimento da
democracia e Estado de Direito e no acompanhamento da execução do acordo de
mobilidade entre os países-membros, incluindo a realização de reuniões
periódicas com vista a assegurar acordos que facilitem a mobilidade na CPLP.
Talapa assumiu que vai focar-se na atração de investimentos
privados com harmonização de taxas alfandegárias e fiscais entre países-membros
e na promoção da língua portuguesa e da cultura dos países da CPLP, incluindo
revisão dos estatutos do órgão e avanços em matérias de igualdade de género.
Fundada em 1996, a CPLP integra nove países – Angola,
Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São
Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Lusa
