A ministra das Finanças de Angola disse hoje que o Corredor
do Lobito faz repensar a forma de financiamento das infraestruturas em África,
com um modelo nas últimas décadas "muito ancorado no investimento público
puro".
Vera Daves de Sousa, que foi uma das palestrantes da reunião
plenária sobre "O Futuro da Parceria entre os EUA e África", referiu
que o projeto do Corredor do Lobito, uma infraestrutura ferroviária
estratégica, que liga o Porto do Lobito, em Angola, à República Democrática do
Congo (RDCongo) para facilitar o escoamento de minerais e mercadorias,
"demonstra que é possível construir parcerias de sucesso, ancoradas no
investimento privado".
Segundo Vera Daves de Sousa, este mecanismo tem diversas
vantagens, uma das quais a de não colocar "pressão adicional em economias,
algumas delas já com um nível de endividamento que requer cuidados e
atenção", não deixando ao mesmo tempo de encarar a falta de
infraestruturas que existe e "não pode ser ignorado".
A titular da pasta das Finanças de Angola vincou que o
continente africano "tem um gap de infraestruturas premente, mas também
tem níveis, em alguns casos altos, noutros consideráveis, de
endividamento".
Vera Daves de Sousa argumentou que soluções que envolvam a
parceria de entidades privadas, o financiamento destas entidades e a
identificação de bons projetos, e ser possível "demonstrar que o projeto
vai pagar-se a si mesmo, sem dúvida é o caminho e o futuro".
A ministra das Finanças angolana frisou que é preciso
não se ter uma visão redutora, de se olhar "pura simplesmente [para a]
exportação ou a movimentação de minerais críticos", mas sim uma perspetiva
de valor acrescentado, com parcerias de médio e longo prazo, conteúdo local, no
caso particular de Angola, a criação de empregos, o surgimento de oportunidades
de outros negócios nas áreas do turismo, agronegócios, indústria ligeira e
outras.
"O ponto de partida tem que ser recalibrar as parcerias
numa perspetiva de motivar o investimento efetivo e juntos fazermos o caminho
que possa ser conducente à concretização desse investimento", salientou.
A governante angolana frisou que as parcerias têm sido muito
ancoradas ou num mecanismo de doação ou num mecanismo de financiamento ao
Estado, pelo que é necessário que as partes façam por "ir para além
disto".
"Não que vamos desistir dessas duas variáveis, mas
tornar as parcerias mais ricas e concentrarmo-nos no espetro maior de
colaboração, olhando para as grandes empresas, mas também para as médias e
pequenas empresas", disse.
Vera Daves defendeu que é preciso também olhar-se para
outros setores, além do habitual setor de energia, virar o foco para
iniciativas que sejam intensivas na geração de postos de trabalho.
"Pensar um pouco fora da caixa, dá trabalho, obriga-nos
a fazer as coisas de forma diferente, obriga-nos a estudar mercados com os
quais não estamos acostumados, o tema da língua também se coloca, mas temos que
encontrar caminhos para endereçar tudo isso e estabelecer parcerias que sejam
benéficas no seio do continente e fora dele", observou.
A 17.ª Cimeira de Negócios EUA-África terminou hoje, depois
de três dias intensos de contactos, e contou com a participação de mais de
1.500 delegados, entre chefes de Estados, chefes de Governos, representantes de
490 empresas angolanas, 202 africanas e 73 norte-americanas, tendo sido
assinados nove instrumentos jurídicos, em vários setores. Lusa/Fim
