O Governo são-tomense afastou indícios de lavagem de dinheiro russo através
de bancos do arquipélago, e pediu ao Ministério Público e polícia judiciária de
São Tomé e Portugal que investiguem relatados feitos num canal de televisão
portuguesa.
"À partida não há indícios que possa ter havido esse
tipo de ações, por isso nós vamos fazer o nosso trabalho de averiguação",
disse à Lusa o ministro de Estado, Economia e Finanças de São Tomé e Príncipe,
Gareth Guadalupe.
Em causa estão declarações feitas pelo comentador da SIC
José Milhazes durante o espaço de comentário Guerra Fria, na terça-feira,
em que afirmou que "de forma muito discreta São Tomé e Príncipe está a se
transformar num lugar de branqueamento/lavagem de dinheiro russo".
José Milhazes referiu-se a informações publicadas no
Telegram por páginas russas "bastante bem informadas".
O comentador referiu que os bancos russos VTB e GazpromBank
estão a utilizar dois bancos em São Tomé - o Banco Internacional de São Tomé e
Príncipe (BISTP) e o Banco Equador -, comprando ações, através de pessoas de
confiança e de altos executivos, "para escapar às sanções" europeias
à Rússia "permitindo ocultar a presença real de bancos russos em São
Tomé".
"Há toda uma série de intermediários, que ganham
grandes comissões, comissões chorudas [..] são principalmente os dirigentes dos
bancos, os gerentes dos bancos que estão a ganhar com este esquema e não os
bancos em si", referiu o comentador, defendendo que "a União Europeia
tem que estar atenta a esta e a outras violações que são diariamente
denunciadas pela imprensa internacional".
São acionistas do BISTP o Estado são-tomense com 48%, a
Caixa Geral de Depósitos com 27% e o Banco Angolano de Investimentos com 25%.
Quanto ao Banco Equador, o ministro de Estado, Economia e
Finanças de São Tomé e Príncipe assegurou que "está comprovadamente
liquidado".
O Governante são-tomense disse que está em contacto com as
instituições financeiras como o Banco Central, que faz a supervisão financeira,
o Ministério Público, a Polícia Judiciária, e também a Unidade de Informação
Financeira (WIF, na sigla inglesa) para a averiguação do assunto.
Gareth Guadalupe enfatizou que os últimos relatórios do
Grupo de Ação Financeira Internacional (GAFI) e do Grupo Intergovernamental de
Ação contra o Branqueamento de Dinheiro (GIABA) não indicam que o arquipélago
esteja "tão mal para que haja esses tipos de ações", tendo, no
entanto, insistido que é preciso fazer "esse trabalho de
averiguação".
Além disso, referiu que São Tomé e Príncipe tem em vigor a
lei contra o branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, "que
ainda continua atualizada para aquilo que são estes tipos de ações hoje em
dia".
"Nós vamos fazer os nossos trabalhos de casa e
esperemos que essa informação seja mais rapidamente esclarecida porque nós
queremos continuar a manter a nossa reputação como um país de estabilidade
financeira, como um país de integridade, como um país de transparência ou nível
do sistema financeiro", sublinhou Gareth Guadalupe.
O governante são-tomense disse esperar "contar com a
ajuda do Ministério Público de Portugal e também da PJ portuguesa" para o
esclarecimento do assunto.
No entanto, Gareth Guadalupe adiantou que se não forem comprovadas as declarações do comentador da SIC, "as medidas terão que ser tomadas" e "o prevaricador terá que ser punido porque está em causa a imagem do país e nada está em cima dos interesses superiores do Estado de São Tomé e Príncipe".
Lusa
