Os médicos são-tomenses afirmam estar com "mais força e
coesão" na luta contra o "sistema de saúde precário" no arquipélago
recusando exercer a medicina "em condições que parecem sítio de
catástrofe", rejeitando ilegalidade da greve iniciada na
quinta-feira.
"Que a população saiba que nós não nos sentimos
acanhados pela intimidação do Governo. Antes pelo contrário, deu-nos mais força
e coesão. A nossa luta é contra este sistema de saúde precário. A greve tem
tido uma adesão de 100% daqueles médicos que não estão impedidos de o fazer e
este grupo ficou ainda mais unido que nunca, aguardando que o Governo efetive a
sua ameaça de penalização que considerar pertinente", lê-se num comunicado
do sindicato enviado à Lusa.
Na quinta-feira, os médicos são-tomenses iniciaram uma greve
geral por tempo indeterminado para exigir uma solução imediata para o
abastecimento de medicamentos e consumíveis, que, segundo a presidente do
Sindicato, faltavam inclusive para assegurar os serviços mínimos.
No sábado, o primeiro-ministro do arquipélago, Patrice
Trovoada, anunciou que uma parte de medicamentos, reagentes e os consumíveis
chegaram ao país por via aérea, e assegurou que mais fármacos continuarão a
chegar.
No entanto, o sindicato dos médicos refere que tomou
contacto com a lista de medicamentos que chegaram aos país e alertou que inclui
600 ampolas de Diclofenac, "um dos medicamentos mais usados nos serviços
sanitários pelo que esta quantidade irá durar apenas três dias", assim
como "100 seringas de 20 mililitros que também em dois ou três dias vão se
acabar".
"Daqui a três ou quatro dias vão dizer à população que
o Governo colocou medicamentos e os médicos roubaram, como o senhor
primeiro-ministro acabou de dizer recentemente [...] desafiamos o senhor
primeiro-ministro a provar que os médicos têm medicamentos hospitalares nas
suas clínicas e caso o prove, que aja em conformidade em vez de lançar
suspeitas e calúnias", lê-se no comunicado, datado de domingo.
No documento assinado pela secretária-geral do sindicado,
Benvinda Vera Cruz, os médicos voltaram a denunciar as condições precárias do
sistema nacional de saúde são-tomense.
"Não se pode continuar a exercer medicina nas
condições atuais do nosso sistema de saúde, pondo em risco vidas dos nossos
cidadãos que não têm possibilidade de pegar o avião ou um jato privado para se
tratar no exterior. Não se pode exercer medicina, usando medicamentos e outros
consumíveis que não são aqueles que o paciente precisaria. Não se pode exercer
a medicina sem ter meios para confirmar uma suspeita de diagnóstico e assim
dirigir o tratamento. Não se pode exercer a medicina em condições que parecem
sítio de catástrofe", sublinham.
"São nestas situações de ilegalidade em que trabalhamos
e que o povo de São Tomé e Príncipe recebe assistência médica e que o Governo
de São Tomé e Príncipe se sente cómodo. Por outro lado, se sente incomodado com
a suposta ilegalidade de uma nota de pré-aviso de greve que falsamente teria
chegado sem cumprir os sete dias de antecedência", acrescenta-se na nota.
No entanto, asseguram que durante os dias de greve
"todos os doentes graves, tanto os internados como os das urgências,
mereceram o atendimento médico devido".
"Sabendo da imensa falta que os nossos préstimos fazem
na vida da população mesmo não tendo os meios de que necessitamos para melhor
responder às necessidades dos doentes, mesmo com a recusa do Governo em assinar
um memorando que só vem beneficiar a população são-tomense, na perspetiva que o
Governo se comprometesse a melhorar a saúde de todos, o Sindicato dos Médicos
informa que está aberto ao diálogo para a resolução mais célere desta
situação", lê-se na nota.
Lusa/Fim
