O Presidente da República da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco
Embaló, qualificou hoje de "atrevido" o secretário executivo da
Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), Zacarias da Costa, por ter
comentado a situação política guineense.
"Ele é atrevido, o secretário executivo não tem essa
competência, ele foi além das suas prorrogativas", afirmou, em entrevista
à Lusa, o chefe de Estado da Guiné-Bissau.
Zacarias da Costa pronunciou-se por duas vezes sobre a
Guiné-Bissau, que assumirá a presidência da CPLP em 2025, afirmando que a
comunidade "segue com alguma preocupação os desenvolvimentos" no país
da África Ocidental.
"Ele é atrevido, não tem limites, nem tem a noção das
declarações que proferiu. Tinha que se preocupar é com a situação de
Timor-Leste", reiterou o presidente da Guiné-Bissau, referindo-se à origem
timorense de Zacarias da Costa.
O chefe de Estado guineense considerou que o secretário
executivo da CPLP "está a agir a mando de uma mão oculta", sem
adiantar mais pormenores.
"Espero que seja a última vez que se refere à
Guiné-Bissau. Da próxima vez, haverá consequências diretas", afirmou.
Umaro Sissoco Embaló salientou que a Guiné-Bissau "já
presidiu a uma organização muito maior que a CPLP", referindo-se à
presidência da CEDEAO, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental.
Sissoco Embaló disse já ter abordado a questão com o
primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, à margem da última Assembleia
Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, e que lhe foi dirigido um pedido de
desculpas da parte do chefe do Governo timorense.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau, Carlos
Pinto Pereira, também já manifestou descontentamento com as declarações do
secretário executivo da CPLP.
Em entrevista à Lusa, em Lisboa, o responsável pela
diplomacia guineense mostrou-se preocupado com as declarações que considerou
"pouco abonatórias" para o país e lembrou que a CPLP tem um órgão
político que é o Conselho de Ministros, presidido por São Tomé e Príncipe.
"Que eu saiba [Zacarias da Costa] não consultou, não
ouviu ninguém. Pergunto-me com que legitimidade é que o secretariado assume
este tipo de questões, sem ouvir ninguém?", referiu.
Zacarias da Costa afirmou que "a CPLP segue com
alguma preocupação os desenvolvimentos na Guiné-Bissau, mas constitui um
princípio fundamental da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa não
interferir nos assuntos internos de cada Estado-membro".
"Temos a certeza que os guineenses saberão como sair
desta situação menos boa. As eleições já foram anunciadas pelo Presidente da
República, para o dia 24 de novembro, e naturalmente esperamos que tudo corra
com normalidade", acrescentou.
O Presidente da República da Guiné-Bissau marcou eleições
legislativas antecipadas para o próximo dia 24 de novembro, após ter dissolvido
a Assembleia Nacional Popular, em dezembro de 2023, e ter formado um Governo de
iniciativa presidencial.
Recentemente, a Comissão Permanente da Assembleia Nacional
Popular adotou uma resolução onde exortou o Presidente da República a marcar
eleições presidenciais ainda no decurso deste ano para que no dia 28 de
fevereiro de 2025 haja um novo chefe de Estado.
A Comissão Permanente instou ainda as autoridades a resolver
a situação no Supremo Tribunal de Justiça e a eleições de um novo secretariado
da Comissão Nacional de Eleições, justificando que a CNE está caduca desde
2022.
Os pronunciamentos da Comissão Permanente foram mal
recebidos pelos governantes que proibiram o acesso de vários deputados à
Assembleia Nacional e levaram dirigentes do MADEM-G15, a ala que apoia Umaro
Sissoco Embaló, a afirmar que o atual presidente do parlamento, Domingos
Simões Pereira, não tinha condições para permanecer no cargo, indicando Satu
Camará, vice-presidente do órgão, como substituta.
Lusa
