Crise energética gera preocupação em São Tomé e Príncipe

user 12-Apr-2023 Nacional

Os são-tomenses debatem-se com cortes constantes de energia, e são obrigados a recorrer a velas e geradores. Operadores económicos relatam prejuízos. O Banco Africano de Desenvolvimento prometeu ajudar.

São Tomé e Príncipe enfrenta a maior crise energética de sempre. Nas ruas da capital, os geradores ecoam por todos os cantos. Os comerciantes e operadores económicos das pequenas indústrias de transformação e os consumidores reclamam.

"Ontem liguei o gerador desde oito da manhã até às 16 horas, por dia gasto cerca de 14 litros. Eu tenho muitos congelados, não dá para desligar a energia nenhum minuto. Congelado estraga. Estou a sofrer com este problema já há dois meses", relata um comerciante à DW.

Para outro, a falta de energia "é um problema crónico" no país. "Essa é a epidemia de São Tomé e Príncipe, sempre foi assim nunca mudou. Um Governo sai entra outro, tem de trabalhar para melhorar, mas está sempre a mesma coisa, não pode ser assim", critica o comerciante.

Infraestrutura precária e falta de fundos

Das cinco centrais térmicas existentes na Ilha de São Tomé, todas precisam de manutenção completa. Problema que se junta à falta de dinheiro para a compra de combustíveis.

Segundo Clério Boa Esperança, diretor de Energia da Empresa de Água Eletricidade (EMAE), a ENCO (Empresa Nacional de Combustíveis e Óleo) fornece à EMAE 80 mil litros de combustíveis para São Tomé e ilha do Príncipe, sendo 75 para São Tomé e cinco para o Príncipe, diariamente.

"Na disponibilidade de geradores, temos disponíveis 34 megawatts instalados, mas tendo em conta a falta de manutenção temos disponíveis neste momento um total de 14 megawatts e no Príncipe temos 2.5 megawatts instalados, mas operacionalmente só temos disponíveis 1.5 megawatts", admite.

Setor pode entrar em colapso

Hélio Lavres, diretor da empresa de Água e Eletricidade de São Tomé, diz que o setor energético poderá entrar em colapso a qualquer momento. O país acumula uma dívida para com a petrolífera angolana Sonangol avaliada em mais de 250 milhões de dólares.

"Neste momento o país encontra-se numa situação crítica e põe em perigo mesmo a importação do gasóleo para os próximos tempos. Neste momento temos problemas para importarmos gasóleo, défices de verbas para importar gasóleo. Precisamos de facto de peças que não existem neste momento, trabalhamos com dificuldades e recorremos muito às nossas sucatas", relata.

 

Pietro Toigo, representante do Banco Africano de Desenvolvimento para Angola e São Tomé e Príncipe, lidera uma equipa que está a preparar o novo programa de coperação entre a instituição e São Tomé. Reuniu-se recentemente com o primeiro-ministro são-tomense e com as organizações da sociedade civil e prometeu contribuir para resolver um problema pontual.

"Vamos ter que encontrar algumas formas breves para pelo menos manter a capacidade de geração nos próximos doze meses”, disse.

Plano estratégico para o setor energético

O Banco Africano de Desenvolvimento investiu cerca de 40 milhões de dólares nos últimos cinco anos. E para o próximo quinquénio, segundo Toigo, a energia será o setor privilegiado para o investimento.

"Estamos a dialogar com o Governo para ter um plano estratégico para o setor energético que abrange as escolhas e os custos de geração e também que incorpora uma estratégia da rede de distribuição e uma estratégia muito cara e arrecadação dos custos porque um dos grandes problemas em termos de falta de capacidade financeira é porque há muitas faturas que não pagas", explicou.

O setor energético em São Tomé e Príncipe está à beira do colapso. A EMAE tem cerca de 50 mil clientes, mas a empresa estima que 40% não pagaram as dívidas e o Estado é principal devedor.

dw

 

 

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