O líder do Governo de Macau, Sam Hou Fai, disse hoje que quer criar um mecanismo monetário para liquidar, na região chinesa, as transações comerciais entre a China e os países de língua portuguesa.
Durante a discussão das Linhas de Ação Governativa para 2026, no parlamento local, Sam destacou como prioridade “a promoção da troca recíproca do renmimbi”, a moeda da China continental, com os mercados lusófonos.
O chefe do executivo de Macau recordou que, em maio, os bancos centrais da China e do Brasil assinaram um memorando de cooperação estratégica financeira e renovaram um acordo bilateral de linhas de câmbio nas moedas locais.
“Através da utilização do renmimbi, criando um mecanismo permanente, pode dar mais conveniência ao uso do renmimbi” para o comércio entre a China e os países de língua portuguesa, defendeu Sam.
O Governo chinês tem procurado internacionalizar o renmimbi, moeda que não é inteiramente convertível em outras moedas. Pequim impõe um rígido controlo ao fluxo de capitais, sobretudo para fora do país.
Um mecanismo monetário, “incluindo os países de línguas portuguesa e espanhola”, pode também encorajar o mercado de obrigações, defendeu o primeiro líder da região semiautónoma chinesa que fala português.
Sam sublinhou que o valor dos títulos de dívida emitidos em Macau já ultrapassou 100 mil milhões de patacas (86,4 mil milhões de euros). A maioria deste valor foi para emissões feitas pelas autoridades centrais ou locais chinesas.
Como tal, o chefe do executivo quer atrair os governos e as empresas dos países de línguas portuguesa e espanhola para emitirem dívida no mercado de obrigações de Macau.
Em janeiro, Henrietta Lau Hang Kun, dirigente da Autoridade Monetária de Macau, disse que os bancos centrais de Angola e Timor–Leste estavam interessados em emitir dívida pública na região, para atrair investidores da China continental.
Em maio de 2019, Portugal tornou-se o primeiro país da zona euro a emitir dívida na moeda chinesa, no valor de dois milhões de renmimbi (243,1 milhões de euros).
Sam Hou Fai disse hoje que o Governo de Macau já encarregou uma instituição financeira, cuja identidade não revelou, de analisar a possibilidade de usar a pataca digital no comércio sino-lusófono.
Em maio, o secretário para a Economia e Finanças, Anton Tai Kin Ip, tinha defendido que a pataca digital pode ser “um dos instrumentos de transação digitalizada para os países de língua portuguesa, para transações comerciais”.
O protótipo do sistema da pataca digital de Macau (e-Mop) foi lançado em 12 de dezembro, com o apoio do banco central da China, a primeira grande economia do mundo a lançar uma moeda digital, o renmimbi digital ou e-CNY, em 2020.
Também hoje, Sam Hou Fai disse que um novo centro já está a operar na vizinha zona económica especial de Hengqin (ilha da Montanha) para promover os serviços económicos entre a China e os países lusófonos e hispânicos.
Desde “o início do corrente ano” que o Centro de Serviços Económicos e Comerciais entre a China e os Países de Língua Portuguesa/Espanhola está a dar às empresas estrangeiras serviços “a nível jurídico e contabilístico”, explicou Sam.
Lusa