René Tavares inaugura a sua primeira exposição individual no Reino Unido

user 02-Oct-2023 Nacional

A galeria de arte angolano-portuguesa THIS IS NOT A WHITE CUBE, em parceria com o THE AFRICA CENTRE, tem o prazer de anunciar a realização da primeira exposição individual do artista santomense René Tavares em Londres. 

Intitulada "PORTRAITS FOR ENGLISH TO SEE", a exposição inaugura a 9 de Outubro no THE AFRICA CENTRE e conta com a curadoria da aclamada arquitecta e curadora angolana Paula Nascimento, vencedora em 2013 do Leão de Ouro para Melhor Participação Nacional na Bienal de Veneza.

A mostra apresenta sete obras inéditas, que integram as mais recentes e icónicas séries de pintura de René Tavares - "Portraits for English to See" e "Cotton People Reloaded" -  resultantes de um processo de produção e pesquisa que atravessa os domínios da fotografia de arquivo e da pintura. 

O título decorre de uma antiga expressão idiomática portuguesa, "para inglês ver", surgida no Brasil na década de 1830, quando a Inglaterra apelou àquele país que promulgasse legislação destinada a travar o tráfico negreiro. Lamentavelmente, as medidas reguladoras então promulgadas tiveram um impacto inexpressivo. No entanto, a expressão persistiu no tempo como sinónimo de superficialidade, sendo com esse mesmo sentido resgatada pelo artista para destacar temas profundamente interligados com questões históricas e sócio-políticas que moldaram a construção de várias nações africanas. 

Ao questionar heranças assimiladas, negligenciadas e esquecidas, e ao desafiar a rigidez das categorias e preconceitos, René Tavares propõe-se, através da sua obra, a aumentar a consciencialização e desencadear processos de resiliência e capacitação social.

As séries apresentadas nesta exposição destacam-se pela sua escala grandiosa e pela hábil manipulação de tintas e pigmentos em pó, com os quais o artista cria paisagens com campos de algodão e superfícies maleáveis, que assumem frequentemente uma aparência terrosa.  A persistência do conceito de layer e do conceito de miscigenação define a estrutura capital da obra de René Tavares, onde o artista  introduz reiteradamente combinações conceptuais inevidentes, referências culturais e patrimoniais cruzadas e soluções plásticas compostas.

René Tavares ocupa uma posição central no panorama artístico santomense e é uma figura de destaque no sistema da arte contemporânea do espaço geográfico lusófono. A sua visibilidade tornou-se crescente em África e internacionalmente ao longo dos últimos anos.

Como parte da apresentação desta exposição, no dia 13 de Outubro, pelas 19h, o The Africa Centre acolherá uma conversa com o artista intitulada “Unfinished Histories”. O evento constitui uma oportunidade única para conhecer René Tavares e para aprofundar o conhecimento sobre os elementos centrais da sua prática artística, bem como interagir com algumas das mais relevantes e influentes  vozes curatoriais e culturais que trabalham com África e com a cena artística da sua diáspora:  a arquiteta e curadora angolana Paula Nascimento, que participa como oradora, e o curador independente, académico e investigador britânico Paul Goodwin, que intervém como moderador.

 

A exposição estaá patente até dia 29 de Outubro no The Africa Centre (66 Great Suffolk St, London SE1 0BL), de terça a sábado, entre as 10h e as 18h, e aos domingos, entre as 10h e as 16h. A entrada é livre.

O trabalho de René Tavares baseia-se num processo de pesquisa em arquivos, fotografias e literatura, trazendo a palco temas relacionados com questões históricas e sócio-políticas que afectaram diferentes países africanos. Com uma predileção pela pintura e pelo desenho, a prática artística de Tavares inclui também a fotografia, o vídeo e a performance. O trabalho do artista evolui e expande-se sob a forma de projectos e séries que se desenvolvem ao longo do tempo de acordo com as suas próprias experiências de transição entre diferentes linguagens artísticas, entre os continentes africano e europeu, entre a África insular e continental, mas também entre o local e o global, o individual e o coletivo. Ao questionar as heranças assimiladas, negligenciadas e esquecidas e ao desafiar a rigidez das categorias e dos preconceitos, as obras do artista são produzidas de forma impulsiva e empenhada para aumentar a consciencialização e desencadear processos de resiliência e de capacitação social. 

Recorrendo a uma paleta de cores ricas, profundas e terrosas, e trabalhando a tela na íntegra e por camadas, o universo figurativo de Tavares, com a sua atmosfera onírica, está repleto de memórias e de presenças humanas, rostos e olhares que nos fitam através do espaço e do tempo. As obras enfatizam ainda elementos iconográficos e simbólicos, como campos e plantações de algodão, animais específicos, objectos e habitações, bem como a representação de retratos de grupo. Estes retratos colectivos de homens e mulheres, quer em pé, pacificamente, quer mostrados nas suas interacções e actividades diárias, visam refletir sobre os processos históricos de hibridação e miscigenação que ocorrem entre vários grupos étnicos, comunidades e culturas, incluindo componentes assimilados durante as eras colonial e pós-colonial. Através das suas pinturas ou instalações multimédia, que incluem frequentemente palavras marcantes referentes ao racismo e à discriminação, Tavares funde referências retiradas de práticas e crenças ancestrais, memórias colectivas e património, com a contemporaneidade e a globalização. Assim, o conjunto da sua obra evidencia os processos de apropriação, integração e fusão de componentes religiosas, sociais e culturais heterogéneas que compõem muitas culturas africanas.

 

Em séries precedentes, como "In Memory We Trust", "Thinking About Africa's Future" ou "New State of the Atlantic", os espectadores são desafiados pela necessidade de uma revisão crítica das concepções preconcebidas e distópicas das identidades africanas, e pela exigência premente de valorizar a diversidade, a riqueza e as múltiplas dimensões das várias Áfricas no continente e na sua diáspora.

 

Tavares é licenciado em Belas Artes e Artes Visuais pela Escola de Belas Artes do Dakar (Senegal), pós-graduado em Artes Visuais, Pintura e Fotografia pela Escola de Belas Artes de Rennes (França), e mestre em Ciências da Arte e do Património pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa (Portugal). Destaques na sua carreira incluem a seleção como finalista do Prémio Novos Artistas da Fundação EDP (2022), o Prémio Voto Público do Norval Sovereign African Art Prize (2022), a nomeação para o novo talento artístico mais influente de África (FNB Joburg Art Fair, 2018) e o Prémio Artista Revelação na Bienal de Arte e Cultura de São Tomé e Príncipe (2002).

 THE AFRICA CENTRE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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