Líder da oposição são-tomense pede divulgação do relatório da CEEAC sobre assalto ao quartel

user 21-Feb-2023 Nacional

por Lusa

O MLSTP/PSD (oposição são-tomense) apelou hoje aos membros da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC) que autorizem a publicação do relatório da missão desta organização sobre o assalto e mortes ocorridas no quartel militar.

"Apelar aos chefes dos Estados-membros da CEEAC para que estejam conscientes da gravidade dos acontecimentos de 25 de novembro e do perigo que representa para o nosso país o não esclarecimento destas ações e autorizem a publicação deste relatório, de forma que o povo de São Tomé e Príncipe e a comunidade internacional possam conhecer a verdade dos factos e não permitir que outras teses sejam construídas e propagadas, com a clara intenção de branqueamento desta grave e eventual desresponsabilização dos seus verdadeiros mandantes e autores materiais", pediu hoje o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social Democrata (MLSTP/PSD), num comunicado de imprensa, lido pelo porta-voz, Wuando Castro.

Na semana passada, o presidente da Comissão da CEEAC, Gilberto Veríssimo, disse à Rádio France Internationale (RFI) que o relatório preliminar de uma missão desta organização, que esteve em São Tomé durante quase um mês, após os acontecimentos de 25 de novembro, será apresentado no próximo sábado aos chefes de Estado e de Governo da organização durante uma cimeira que se realizará na República Democrática do Congo, em que deverá participar o Presidente são-tomense, Carlos Vila Nova.

"O papel do Presidente da República Carlos Vila Nova, que estará presente nesta cimeira em representação de São Tomé e Príncipe, será fundamental, pelo que apelamos também ao seu patriotismo e sentido de Estado para se posicionar a favor da publicação deste relatório", disse o MLSTP.

"A pedido do senhor Presidente da República e do senhor primeiro-ministro [são-tomenses], a CEEAC enviou no dia 29 de novembro uma missão de constatação de factos, missão que esteve até 21 de dezembro em São Tomé e Príncipe e que teve oportunidade de tratar com algumas autoridades, visitar o quartel em que ocorreram os factos, falar com algumas das pessoas tidas como protagonistas no ocorrido. Há um relatório preliminar, que foi feito, que já está em minha posse, e que eu apresentarei aos chefes de Estado da CEEAC no dia 25 de fevereiro", disse Gilberto Piedade à RFI.

O diplomata angolano afirmou que "as provas são públicas" e que "é muito difícil que alguém possa dizer que os vídeos, as fotos sejam montagens porque foram divulgados imediatamente depois dos factos".

Entretanto, num comunicado de imprensa datado de sábado, o Governo são-tomense, chefiado por Patrice Trovoada, lamentou "a atitude do presidente da Comissão Económica da organização [CEEAC], por pôr em causa o bom nome do país".

"Não obstante o completo desconhecimento das conclusões do dito relatório preliminar, o Governo não entende a intenção, nem a razão de tais expedientes por parte do senhor Gilberto Veríssimo, pelo que repudia e condena de forma veemente a sua atitude", lê-se no comunicado publicado no Facebook.

"O MLSTP/PSD não entende o desconforto e desorientação do Governo são-tomense em relação a esta entrevista e a prepotente acusação de que as palavras do presidente da Comissão da CEEAC colocam em causa a imagem e o bom nome do país, quando todos sabemos e reconhecemos que a imagem e o bom nome do país foram sim manchados de forma indelével pelos protagonistas dos bárbaros acontecimentos de 25 de novembro, quando torturaram e mataram quatro cidadãos nacionais no quartel-general das Forças Armadas de São Tomé e Príncipe, situação nunca antes vista neste país de nome santo", referiu hoje o porta-voz do MLSTP/PSD.

Wuando Castro disse que o MLSTP "repudia o comunicado precipitado e atabalhoado do Governo são-tomense que, desde o início deste processo, tem agido de forma esquisita e condicionado, em vários níveis, qualquer tentativa de debate público ou oportunidade de esclarecimento de algumas situações ocorridas, mantendo em funções, até hoje, altas patentes militares que tiveram participação, por ação ou omissão, no massacre no quartel-general, que já foram constituídos arguidos pelo Ministério Público, e os respetivos responsáveis políticos".

O maior partido da oposição são-tomense manifestou "total solidariedade" para com o presidente da Comissão da CEEAC, a quem pediu que se mantenha "firme e imparcial no cumprimento desta missão" e que "não se deixe intimidar por estas manobras de distração".

Na madrugada de 25 de novembro, quatro homens atacaram o quartel das Forças Armadas, na capital são-tomense, num assalto que as autoridades classificaram como tentativa de golpe de Estado. O oficial de dia foi feito refém e ficou ferido com gravidade devido a agressões.

Três dos quatro atacantes detidos pelos militares, e Arlécio Costa, um antigo combatente do batalhão Búfalo da África do Sul - detido posteriormente, em casa -, morreram horas depois no quartel.

Fotos e vídeos dos homens com marcas de agressão, ensanguentados e com as mãos amarradas atrás das costas, ainda com vida e também já na morgue, e com militares a agredi-los, foram amplamente divulgadas nas redes sociais.

Um total de 11 militares estão presos preventivamente, por alegado envolvimento nos maus-tratos e mortes dos quatro homens, enquanto outros seis foram constituídos arguidos e ficaram sujeitos a termo de identidade e residência (TIR). Outros nove estão em prisão preventiva no processo de investigação do assalto ao quartel.

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